quinta-feira, dezembro 10, 2009

Entrevista do Padre Albino Reis ao jornal Audiência



Aqui fica um excerto da entrevista concedida pelo Padre Albino Reis ao jornal Audiência, escrita por Tânia Pinheiro Lino e publicada a 3 de Novembro de 2009 no site do Jornal…



A 12 de Outubro de 1978 entrou para o seminário, contra a vontade dos pais, mas cheio de vontade de ser missionário. O gosto pela teologia levou-o a seguir o caminho sacerdotal. Albino Reis foi o primeiro padre a ser declarado objector de consciência e, como castigo, foi fazer uma missão no Brasil, onde ficou por 10 anos. Depois, foi redactor-chefe nas revistas Audácia e Além-mar, fez mais uma missão, no México, até que, após uma ruptura com os Missionários Combonianos, foi parar à Paróquia do Divino Salvador, em Vilar de Andorinho. Neste mês de Outubro faz seis anos que ali chegou para mudar para sempre a vida da paróquia. Dinamizador, criativo e com uma grande capacidade de atrair os jovens para a igreja. Com um estilo muito próprio, o padre Albino Reis, também capelão do Centro Hospitalar de V. N. Gaia/Espinho, falou com o AUDIÊNCIA sobre o passado, o presente, o futuro e deu-nos a conhecer a sua opinião sobre alguns temas polémicos.

O Presente…

O que é que fez durante os quatro anos que esteve em Portugal, até chegar a Vilar de Andorinho?
Uma boa parte desse tempo foi passado na revista Audácia, onde fui redactor-chefe, e colaborava na Além-mar. Entretanto, fui ao México fazer um tempo de formação permanente, um tempo de vivencia espiritual, de formação e de estudo, mas que não consegui fazer dessa maneira. Estive algum tempo na cidade do México mas depois fui para um projecto missionário em Chiapas, numa cidade que se chama Palenque, e estive por lá com duas comunidades indígenas. É uma região onde existe um movimento independentista muito grande, uma região de conflito que quis conhecer. Estive lá com os índios cerca de meio ano a oito meses.

Como é que surgiu a hipótese de ‘abraçar’ Vilar de Andorinho?
Este é o episódio mais triste. A hipótese de vir para Vilar de Andorinho surgiu do desligamento com a congregação a que eu pertencia, dos Missionários Combonianos. Se calhar foi impressão minha mas achei que não estava a ser muito apoiado em tudo o que eu queria fazer, fosse na missão ou na revista, e a dada altura pedi o que era possível fazer que é uma esclaustração simples (sair da congregação por um período de três anos para fazer uma outra experiência). Nessa altura optei pela Diocese do Porto e vim parar a Vilar de Andorinho porque era a paróquia que estava disponível. O projecto era para  três anos mas envolvi-me com algumas coisas em que acreditei.

O que é que sentiu necessidade de mudar mal chegou à paróquia de Vilar de Andorinho?
Encontrei uma paróquia que estava a precisar de ser agitada, havia muito descontentamento da parte das pessoas. Trata-se de uma paróquia que cresceu muito de repente e as estruturas não acompanharam. Estava a precisar de algum dinamismo e, modéstia à parte, acho que consegui imprimir esse dinamismo com aceitação das pessoas.

O Padre Albino Reis é o rosto de uma igreja dinâmica, próxima dos jovens e da população, de uma paróquia que não pára. “Puxa” pelos paroquianos ou são eles que “puxam” por si?
Eu acho que é recíproco e é por isso que digo que, nestas coisas, não se pode estar muito tempo, é preciso uma dinâmica constante para nos motivarmos e puxarmos uns pelos outros. Mas este é um exercício que cansa ao fim de algum tempo. Primeiro, acaba por nos faltar a iniciativa e a criatividade e, depois, é muito possível que nos cansemos porque estas coisas stressam e esgotam.

Hoje as pessoas vão mais à igreja do que quando chegou a Vilar de Andorinho?
Vão. É evidente que falo daquilo que me dizem, mas também falo daquilo que é a minha memória dos primeiros tempos em que estive aqui. Pouco a pouco, fui assistindo ao encher das capelas e da igreja matriz, foi uma coisa nítida.

É algo que o deixa orgulhoso?
Deixa porque se estamos a fazer um trabalho sentimo-nos bem quando é reconhecido e as pessoas aderem. Sobretudo quando aderem com alegria e não porque têm que agradar a alguém ou porque vêm receber uma recompensa material. Estão felizes por constituir uma comunidade, por estar juntos e por celebrar e colaborar.
 Preocupa-se em cativar as pessoas para a igreja ou acha que as pessoas têm que a procurar sem qualquer tipo de estímulo?
As duas coisas são verdade mas sempre me custou ouvir as pessoas dizer que alguém deixou de frequentar uma comunidade religiosa ou uma paróquia por causa do padre. Acho que não deve ser por essa razão porque as pessoas não devem ir por causa do padre, devem ir pela da sua fé.
 Mas o padre ajuda a manter as pessoas.
Exactamente, porque enquanto pessoas precisamos de ser cativados, estimados, acarinhados, acolhidos, por isso, a pessoa que está à frente de uma comunidade tem que ter esta capacidade de congregar, acolher, tolerar, respeitar e ser paciente. Tem que haver um esforço e o padre tem que ser alguém que congregue e não que disperse ou que feche portas.

Qual é a tarefa que gosta mais de levar a cabo na actividade de sacerdote?
Tudo aquilo que me põe em contacto com as pessoas. Desde a celebração da eucaristia, que é o momento mais importante, passando pelas reuniões e os momentos de convívio, todos são momentos muito importantes em que estamos em contacto com os outros. Aquilo que mais me realiza de alguma forma é o estar com as pessoas, enquanto cristão, na perspectiva de quem está a testemunhar a sua fé.

Como é que encara a tarefa de capelão no Centro Hospitalar de Gaia/Espinho?
Esse trabalho foi-me atribuído dois anos depois de chegar a Vilar de Andorinho e, pela minha ligação, a minha história vocacional e o meu desejo de ser médico, o ambiente hospitalar atraiu-me, tanto mais que podia viver a minha vocação sacerdotal. É um trabalho que faço a meio tempo, embora esteja disponível 24 horas por dia, e que, de alguma maneira, me realiza porque o ser humano também precisa de um acompanhamento psicológico, espiritual, de carinho, de amor, de um gesto, de um toque, de uma presença. É um trabalho muito gratificante…

Se voltasse atrás, havia alguma coisa que gostava de não ter feito?
(risos) Se voltasse atrás… eu acho que não… acho que mesmo aquilo que fiz mal, assumi, e acabei por me reconciliar com as pessoas que eventualmente prejudiquei. Não foram grandes males porque nunca fiz grandes males a ninguém, mas mesmo algum prejuízo que tenha feito a alguém, assumi, superei, reconciliei-me, ajudou-me a crescer, e acho que não haveria nada que eu não tivesse deixado de fazer.

Um aspecto que salta à vista nas eucaristias presididas por si é a grande mancha de jovens que a elas assistem. Quando era jovem também participava activamente na Igreja?
Não. Aliás, para muita gente da minha família a grande surpresa da minha decisão foi precisamente por isso. Nunca tive nenhuma envolvência com grupos de jovens ou movimentos de igreja.

Mas hoje faz com que os jovens o tenham.
Sim, é uma das faixas da população que me preocupa, é a juventude, seja na fase da adolescência, seja na idade jovem, que não é fácil. A paróquia já teve melhores dias porque já tivemos aqui três grandes grupos de jovens (de Balteiro, da igreja Matriz e de Vila d’Este), que neste momento não estão a atravessar a melhor fase. Talvez o de Vila d’Este se mantenha com bastante pujança e dinamismo mas os outros dois esmoreceram.

E porque é que isso aconteceu?
Se calhar porque se fecharam. Acabou por ser um grupinho de pessoas que se sentia bem, que se conheceu, e que depois teve dificuldade em fazer com que outros se sentissem bem acolhidos. Os grupos perderam qualidade e quantidade mas mantêm-se.

Foi fácil cativar as pessoas de Vila d’Este a participar activamente na igreja de Vilar de Andorinho?
Sem problema nenhum. O grupo mais coeso e comprometido é o de Vila d’Este. As pessoas dedicam-se e têm amor à camisola, mesmo nas circunstâncias em que estamos a celebrar (num salão sem grandes condições). E eu quase tenho medo de que, quando tivermos a capela nova, segundo os critérios tradicionais, as pessoas percam esse gosto. Aquele ambiente mais próximo, mais informal e mais convivial pode-se perder um bocado.

O Futuro…

Quais são os seus projectos para o futuro?
Terminar a capela de Vila d’Este e ir embora daqui porque acho que não se deve ficar muito tempo num sítio. O máximo aceitável é 10 anos porque deixa de se ter alguma coisa a dizer…

As coisas têm um ciclo e é preciso renovar?
Sim, a gente acomoda-se, instala-se e precisamos de sair. Agora, eu não digo que se for provocado e motivado, que não consiga fazer isso no mesmo sítio mas acho muito difícil. Começam-se a criar vícios. Estou aqui há seis anos e noto que estou a relativizar muito mais as coisas do que no inicio. Começa-se a ter alguma estabilidade, a dominar o território, a conhecer as pessoas todas e, quer queiramos quer não, acomodamo-nos. Mas não é o projecto principal, que neste momento é trabalhar.

Porque é que recusa os direitos paroquiais e doa o ‘folar’ à paróquia?
Eu tenho consciência que um padre, que foi alguém que se preparou com esforço, dedicação, sacrifício, que estudou e que se esforça por desempenhar a sua função, precisa inegavelmente de ter uma condição de vida mais ou menos desafogada. É um trabalho que não se pode fazer de forma gratuita, contudo, acho que também não é a actividade que se escolhe para enriquecer. Quem optar pelo sacerdócio para enriquecer errou no caminho. E como tenho conseguido ser feliz e viver com o mínimo indispensável, sem coisas supérfluas, optei por estabelecer um salário que neste momento ronda os 750€, fixo, além do que ganho do hospital. De tudo o resto que entra abdico porque esta é uma paróquia com muitas necessidades. Mas mesmo quando deixar de ter não vou mudar de ideias. A paróquia está a crescer e precisa de dinheiro para muitas actividades, por isso, não seria justo eu estar a arrecadar uma boa parte do bolo que é o ‘folar’ e os direitos paroquiais. Claro que quem fica a perder, contabilisticamente, sou eu, mas fico a ganhar na minha consciência, na minha realização pessoal e na minha forma de estar.

O Boletim Paroquial, semanário, e o site actualizadíssimo são dois mimos que oferece aos paroquianos vilarenses?
O Boletim Paroquial é feito exclusivamente por mim e está com vontade de crescer para um jornal mensal, da paróquia. No site tenho gente a ajudar-me. São uma maneira de poder estar junto das pessoas com informação e com formação, sempre que quiserem.
    
Para consulta da entrevista na sua íntegra visite:

Vejam ainda: “Senhor, aquele que tu amas está doente”: O capelão hospitalar, disponível em:

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